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Como preparar o paciente para uma recuperação segura no pós cirúrgico?
O processo do cuidado ao paciente na SRPA contribui para uma recuperação rápida e segura
Por SOBECC

29 jul 2020


 

Para falar sobre a preparação do paciente para uma recuperação segura, Debora Popov, membro da nossa diretoria e docente na Universidade Paulista bateu um papo com Rafael Bianconi, membro da diretoria da SOBECC e enfermeiro do Bloco Paciente Cirúrgico do Hospital Albert Einstein, esclarecendo os principais pontos do tema.

Para Rafael, a recuperação segura inicia no momento em que o paciente fez a cirurgia, instante em que começa o planejamento de como será o pós-operatório. No fim da cirurgia tem vários protocolos de segurança que devem ser seguidos. No sign out é confirmado quais foram os procedimentos realizados. “É importante a gente fazer essa conferência com o cirurgião porque ele vai confirmar as contagens que são gases, compressas, instrumentais, agulhas e como fazer todas essas contagens e pedir a confirmação de espécimes para estudos”.

No sign out tem dois itens que são muito importantes. O primeiro refere-se ao setor para verificar se houve algum problema com o equipamento ou material para que não ocorra o problema novamente. E o segundo ponto é verificar se tem algum cuidado específico para o paciente. O sign out deve ser feito antes do cirurgião fechar a pele. 

Segundo Rafael, “A ANVISA definiu que seria interessante a enfermagem assumir como condutor porque na realidade brasileira a enfermagem está presente em todos os momentos cirúrgicos do início ao fim com o nível técnico ou com o nível superior”. 

Confira as principais dúvidas levantadas na live e respondidas por Rafael Bianconi.

Se o cirurgião já saiu da sala antes de fechar a pele? O que fazer? 

Quem faz a lista de verificação do checklist é a enfermagem. Temos duas opções. Se organizar para pegar ele na sala de cirurgia ou eleger o cirurgião assistente para fazer o checkout. Outra forma é combinar com o médico para antes de ele terminar a sutura fazer o sign out. O Anestesista não responde pela cirurgia, responde apenas pela anestesia. O instrumentador não pode fechar a pele, nem dar pontos. 

O sign out não pode ser feito sozinho? 

Nunca! Ele não é o procedimento sozinho nem exclusivo da enfermagem. Lembrando que todos os checklists de segurança, o checklist cirúrgico pode ser três, quatro, sete. Você decide quantos deseja ter mas tem que ter no mínimo três. Eles não são só uma ferramenta de segurança, são itens de comunicação. Numa sala cirúrgica a comunicação é feita entre equipes. 

O sign out é a fase da cirurgia segura que é menos realizada. Por que você acredita que acontece isso e como devemos fazer para mudar a realidade? 

Eu tenho duas teorias. No checklist temos muitos estudos, mas poucas evidências e poucas conclusões. Não tem um estudo que mostra porque temos pouca adesão em uma ou outra situação. Mas é uma mudança de cultura que é lento. O checkout ficou um pouco esquecido porque na verdade todo mundo implantou os três checklists. Ninguém fazia. Depois começaram os processos de melhoria. E começamos a dar atenção primeiro para o sign in. Agora que o sign in está funcionando, vamos fazer o timeout. Mas e o sign out? Não já contou? O problema é esse. O momento de saída o pessoal quer sair para a próxima cirurgia. O enfermeiro às vezes esquece de terminar os protocolos de cirurgia porque tem que rodar a sala, pois tem 30 procedimentos para rodar e fica acelerando e esquece das fases. 

Dentro do hospital tem auditoria no sign out? 

Temos dois tipos de auditoria que são muito presentes nas instituições. A primeira é a auditoria de prontuário, se está preenchido ou não no sign out. Ela é boa e funciona mas pode ter um viés porque as pessoas podem só preencher. O segundo modelo que eu acho funcional é a auditoria in loco, mas nem todas as instituições conseguem por um profissional lá para acompanhar o momento do sign out. No mundo hoje está surgindo as câmeras e gravados dentro da sala de cirurgia. Será que esse não é o caminho, por exemplo, para a auditoria ter 100% dos processos? Talvez utilizar a parte de rede e filmagem ajudaria a gente.

Como é realizado o planejamento no sign out? 

A gente sabe dos cuidados e a pergunta no checklist se tem algum cuidado específico para aquele paciente e as equipes cirúrgicas e anestésicas entendem que teve um cuidado além desse que a gente sabe, porém por mais que nós da enfermagem fazemos nosso planejamento, estudo do prontuário, a equipe cirúrgica e a equipe anestésica tem muito mais noção de como que é a especificidade do paciente. E eles esquecem de falar desses cuidados. Para mudar essa realidade e melhorar o planejamento vamos questionar se tem algum cuidado específico com o paciente.

No sign out é importante a conferência de agulhas visto a segurança do paciente e demais funcionários dentro das salas em que, às vezes, agulhas pequenas ficam jogadas?

Eu sou da opinião que tem que contar tudo. Lógico, temos que entender o que cabe em cavidade e o que não cabe e qual é o tipo de cavidade que a gente tem e qual é o tipo de material que a gente quer contar. No caso da agulha o cirurgião pode usar três ou 152. Então, veja quantas ele abriu e confere a caixa imantada ou a caixa de espuma para você ir espetando. 

Qual o melhor método utilizado para treinar a equipe dentro da perspectiva da segurança para ser eficaz no fim da cirurgia?

Mudança de cultura é sempre um desafio. Temos que informatizar, treinar como vão ser os protocolos. A direção da instituição tem que estar alinhada. Todo mundo precisa estar envolvido, desde o presidente até o cara da limpeza. A adesão é feita com treinamento, campanha, a prática médica de conversar com os cirurgiões e anestesistas, mostrar resultados. Valor e premiação para quem tem maior adesão ao checklist é legal.

Como é feito o cuidado do paciente que está mudando da sala operatória para a sala de recuperação? Como faz essa transição do cuidado? Tem uma passagem de plantão específica?

Começa antes do término do procedimento. Algumas coisas são muito importantes que é a monitorização adequada, não só de batimento cardíaco, de ritmo cardíaco, de saturação e de pressão não invasiva porque isso é o básico. Já sabe que hoje uma hipotermia, por exemplo, aumenta o risco de infecção. Vamos pensar no normal do paciente. Deu tudo certo com temperatura, glicemia, contagens etc. Vamos preparar a passagem para a maca ou para a cama porque é lá que vou recuperar ele. O ideal é usar as ferramentas de transferência como prancha passadora, rola rola etc. Use essas ferramentas que foram criadas para este fim.

Estão utilizando capnografia por máscara na sala de recuperação anestésica?

Eu conheço, mas ainda não utilizei. Na minha realidade ainda não brinquei com esse novo equipamento. É um instrumento que está chegando forte no mercado agora, mas eu acredito que temos de usar mais o termômetro, pois a gente ainda mede muito pouco. E claro vamos pensar na capnografia de máscara que tudo que vem a mais é bom.

Sobre a instrumentação cirúrgica, existe alguma restrição do instrumentador está sentado na sala operatória instrumentando sentado?

O problema não é ele estar sentado e sim dificultar a movimentação dele. É muito comum cirurgião permanecer sentado em um procedimento, por exemplo, de mão e braço. Tem alguns procedimentos que o cirurgião permanece sentado. Eu não vejo problema porque eu acho que o conforto do profissional fazendo procedimento é importante. O instrumentador também poderia sentar, não vejo problema desde que não atrapalhe a mobilidade dele que tem que acessar a mesa, a equipe etc.

Qual é o momento ideal para o sign out?

A realização de sign out deve acontecer antes de terminar a fase de síntese porque depois que acabar essa fase não tem mais equipe cirúrgica na sala.

Lembrando que as contagens já devem ter sido feitas porque se ele está fechando é porque já contou e revisou. A contagem é um protocolo de segurança. O sign out é uma lista de verificação de tarefas. A recuperação começa quando finaliza a anestesia.

  

Sobre a liberação da dieta na sala de recuperação anestésica que é uma situação que tem acontecido com crianças e, às vezes, é difícil segurar um jejum?

Acho que a gente tem que repensar da recuperação anestésica. Dentro do bloco operatório eu entendo mas se você tiver barreiras, processos bem desenhados e o tipo de alimento que vai dar para esse paciente. Trazer coisas prontas que não tem cheiro para não incomodar os outros, mas precisa ter boxes separados por cortinas, mesas de apoio. Não só para alimentação, mas para presença de familiares, alguma coisa para a pessoa fazer porque, às vezes, ele passa uma hora sem nada para fazer e fica olhando para o teto. Uma televisão e tablete com capa. Temos que repensar esse espaço para a humanização e acolhimento do paciente.

Por que o enfermeiro tem que ficar exclusivo na recuperação anestésica?

Porque paciente cirúrgico é crítico e pode evoluir para uma situação crítica. A conduta e diagnóstico é do enfermeiro, que avalia o paciente e entende o que precisa dar atenção na recuperação.


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